Em Luanda, de onde saem 7,5 mil das 19 mil toneladas de resíduos sólidos produzidos por dia no país, o potencial de valorização desses recursos é de 412 milhões de euros por ano, de acordo com estimativas da presidente do Conselho de Administração (PCA) da Agência Nacional de Resíduos (ANR).
Nelma Caetano declarou que Luanda tem um potencial de reutilização de resíduos avaliado em 160 milhões de euros e de 240 milhões de euros em exportações desses materiais, além de um potencial de geração de energia situado entre quatro e 12 milhões de euros.
A PCA da ANR prevê que, com acções de consciencialização da população e investimentos em infra-estruturas de valorização, pode dar-se um aumento da taxa de reciclagem, com o qual o país pode obter potencial interno para a exportação de resíduos.
"Temos levado a cabo várias acções e uma delas é o projecto Educar para Reciclar, que permitiu formar mais de 15 mil alunos em 33 escolas de sete províncias, e o projecto de Inserção Social dos Catadores de Resíduos, que controla 42 cooperativas com 1.500 catadores em cinco províncias”, disse Nelma Caetano no lançamento da Expo Recicla, um evento que tem lugar em Junho e foi, na última sexta-feira, anunciado à imprensa.
Se essa é a evolução no domínio da consciencialização, no que diz respeito às infra-estruturas, o país tem 110 indústrias de reciclagem e valorização, com operações que incidem sobre a sucata e plástico e em apenas 1,0 por cento sobre resíduos orgânicos, afirmou a líder da ANR.
A ANR tem licenciados 549 operadores de gestão de resíduos, incluindo licenças para resíduos não perigosos (a que atrai a maior parte por envolver resíduos comuns), do sector petrolífero e outros.
Para a melhoria do ambiente de negócio na gestão dos resíduos, lembrou, foi recentemente publicado o Decreto Presidencial dos Resíduos, que fixa quotas anuais para a exportação de vidro, electrónicos, pneus e óleo mineral, para apenas citar alguns.
Além do Regulamento de Gestão de Resíduos, a actividade é regida por um que determina que as instituições públicas e privadas que, no decorrer das suas acções, produzirem resíduos, devem obrigatoriamente apresentar um plano de gestão e submetê-lo à ANR para certificação.
Componente da sensibilização
Como prova da evolução da reciclagem de resíduos, algo que a PCA da ANR apresenta como fundamental para a valorização do sector, a Associação Nação Verde prevê lançar, no próximo mês de Junho, em Luanda, o projecto Recicla Mais, com objectivo de promover acções de sensibilização nas comunidades, sobre as melhores práticas de recolha e tratamento, anunciou a secretária-geral da organização.
Marcelina Botes disse que o projecto vai ser implementado em duas fases, sendo a primeira no Distrito Urbano da Ingombota e a outra na Centralidade do Kilamba, onde a reciclagem periódica de duas mil toneladas de resíduos sólidos tem impacto sobre 198 mil populares.
O projecto, que foi desenvolvido sob o lema "Meu Resíduo, Minha Responsabilidade”, tendo como principal financiador o Bloco-17, através da empresa Total EP Angola, consiste na transmissão de métodos de recolha de lixo de forma separada, tendo em conta a importância de cada material no processo de reciclagem, bem como a imagem da cidade e preservação do meio ambiente.
Além disso, vai permitir enquadrar jovens catadores que, no seu quotidiano, realizam trabalhos de forma desprotegida, tendo como benefícios a aquisição de materiais de protecção e um subsídio mensal.
"A recolha do lixo, nos dias de hoje, é exercida de forma arcaica pelos catadores. Muitos, ao separarem os resíduos, deixam restos fora do contentor, o que a Nação Verde trabalha para que não aconteça”, frisou, notando que a associação já trabalha com uma comunidade constituída por 50 catadores na Ingombota.
"Uma das acções já em curso é a promoção da educação ambiental e gestão dos resíduos sólidos nas comunidades”, insistiu Marcelina Botes, que apresenta a Nação Verde como uma associação sem fins lucrativos que já conseguiu recolher mais de 100 mil toneladas das ruas de Luanda.
Os resíduos seleccionados, depois de recolhidos e fardados, são levados para fábricas de reciclagem parceiras, incluindo a Vidrul, especializada na reciclagem de vidro.