O general na reserva Eusébio de Brito Teixeira declarou, esta terça-feira, em tribunal, que não sabe da existência de malas de dinheiro e nunca recebeu qualquer valor das mãos do coréu, Manuel Correia, fazendo perceber que estava perante uma situação estranha.
Eusébio de Brito Teixeira afirmou que nada fazia sentido. Perante o seu depoimento, o co-réu Manuel Correia afirmou que entregou, mais de uma vez, e em locais diferentes, malas de dinheiro ao general e a outros oficiais da Casa de Segurança do Presidente da República.
"Levei malas de dinheiro à casa do general Eusébio de Brito", disse, explicando que a situação ocorreu no Cuando Cubango, em Luanda e, algumas vezes, no Cuanza-Sul. "As malas de dinheiro, que sobravam do pagamento em mãos dos militares e funcionários do Batalhão de Transporte e Desminagem instalada no Cuando Cubango, regressavam a Luanda, e eram entregues, depois, a generais", contou o arguido.
Solicitado a depor pelo advogado do réu Manuel Correia, para esclarecer factos sobre o destino dos valores remanescentes do pagamento do efectivo do referido batalhão, que estava sob sua coordenação de 2008 a 2018, o general na reserva disse que nunca tratou de assuntos financeiros, muito menos enquadrou alguém nesta instituição afecta à Casa de Segurança.
Noutro depoimento, a testemunha Evaristo Maneca, questionado por um dos advogados de defesa se sabia do destino do dinheiro, afirmou: "Tudo sobre finanças não era da minha responsabilidade, mas sim do comandante do Batalhão, Manuel Correia. A testemunha, arrolada no designado "Caso Lussaty", explicou, perante o juiz da causa, que a sua actividade se limitava a coordenar as acções de integrar os efectivos provenientes das ex-FALA.
No cruzamento de depoimentos, relativamente às informações segundo as quais o batalhão tinha registo de enquadramento de novos efectivos, o general na reserva Eusébio de Brito disse que se apercebeu do facto a partir das folhas de salário.
Um dos nomes que constava das folhas de salário, referiu, era da sua filha, que solicitou, imediatamente, a retirada da mesma, alertando ao arguido Manuel Correia sobre riscos de in-correr em crime.
De acordo com a testemunha, esta e outras irregularidades que ocorriam no Batalhão de Transporte e Desminagem, instalado no Cuando Cubango, o obrigou, em finais de 2020, a deixar de homologar a folha de salário.
Apesar de o coordenador ter renunciado de aprovar as folhas de salário, frisou o general na reserva, a operação era concretizada com o seu nome "scaneado" pelo arguido Manuel Correia, facto que o mesmo negou durante a confrontação directa.
Na audiência de ontem, foi ouvido, também, na qualidade de testemunha o ex-governador do Cuando Cubango, João Baptista Tchindandi, que, perante o tribunal, esclareceu que a sua relação com o Batalhão de Transporte e Desminagem era apenas institucional.
A defesa quis saber se tinha relação com o arguido Manuel Correia, pelo que João Baptista Tchindandi respondeu que era uma "relação institucional", tendo em conta a função que exercia e exerce, até agora, na província do Cuando Cubango.
Referiu, na ocasião, que não tinha domínio das questões ligadas ao Batalhão de Transporte e Desminagem, pelo facto de não fazer parte dos efectivos. O major Pedro Lussaty e os outros arguidos são acusados da prática de 13 crimes, entre os quais, peculato, associação criminosa de forma continuada, recebimento indevido de vantagens, abuso de poder e participação económica em negócio. A sessão de audição, decorrente do processo sob número 230/22-A, é retomada esta quarta-feira , com novas testemunhas.