Se fosse vivo, José Eduardo dos Santos completaria, nesta quarta-feira, 82 anos de idade.
Natural de Luanda, onde nasceu a 28 de Agosto de 1942, faleceu no dia 8 de Julho de 2022, aos 79 anos, num hospital de Barcelona, Espanha, onde ficou internado durante alguns dias, depois de uma paragem cardíaca.Filho de Avelino Eduardo dos Santos, carpinteiro, e de Jacinta José Paulino, quitandeira, frequentou a escola primária em Luanda, onde também fez o ensino médio, no Liceu Salvador Correia, actual Mutu-ya-Kevela.
Os passos na vida política iniciou integrando-se nas fileiras da luta clandestina, em 1960, aos 18 anos, em Luanda.
Segundo Presidente de Angola, depois de Agostinho Neto, José Eduardo dos Santos liderou o país por quase quatro décadas (1979 a 2017), e é amplamente reconhecido como o "Arquitecto da Paz” no contexto angolano. A par disso, José Eduardo dos Santos foi uma figura multifacetada e de grande influência na História recente do país. O seu legado, neste sentido, é profundo e multifacetado, reflectindo tanto os desafios quanto às conquistas do país durante e após a guerra civil.
Após décadas de guerra civil, José Eduardo dos Santos foi fundamental nas negociações de paz que levaram ao Acordo do Luena, em 2002, que marcou o fim formal do conflito armado entre o Governo angolano e a UNITA. Este acordo permitiu a desmobilização das tropas da UNITA e a integração dos ex-combatentes na vida civil, criando as bases para a estabilidade política que se seguiu.
Reconstrução e unidade nacional depois da guerra
Com o fim da guerra, José Eduardo dos Santos direccionou os esforços para a reconstrução do país, que envolveu a reconstrução de infra-estruturas, a recuperação económica e a reintegração social. Ainda sob a sua liderança, Angola viu o crescimento das suas indústrias, especialmente no sector dos Petróleos, o que impulsionou o desenvolvimento económico. Este recurso tornou-se a espinha dorsal da economia angolana, transformando o país num dos maiores produtores de petróleo de África.
Outro aspecto do seu legado é a promoção da unidade nacional. Trabalhou para unir um país dividido por décadas de conflito, promovendo a reconciliação e a coesão entre os diversos grupos étnicos e políticos de Angola.
Diplomacia e Relações internacionais
José Eduardo dos Santos desempenhou um papel significativo na caminhada diplomática de Angola, particularmente, no que diz respeito à admissão do país na Organização das Nações Unidas (ONU), pois, na altura, assumia o cargo de ministro das Relações Exteriores. A entrada de Angola na ONU, que ocorreu a 1 de Dezembro de 1976, praticamente um ano após a proclamação da Independência Nacional, tornando-o membro de pleno direito da ONU, um marco importante para a sua reconhecida soberania, assim como um passo fundamental para legitimar o Governo formado pelo MPLA.
Já como Estadista, também foi um actor central na resolução de conflitos na África Austral e desempenhou um papel importante na Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) e na União Africana. Ainda na sua acção diplomática, Angola estabeleceu relações estratégicas com diversas potências mundiais, aumentando a visibilidade e a influência do país no cenário internacional.
Como "Arquitecto da Paz”, José Eduardo dos Santos deixou um legado indelével na História de Angola.
Processo de transição
A 11 de Março de 2016, numa reunião do Comité Central do MPLA, José Eduardo dos Santos anuncia que deixaria a vida política activa em 2018, dando início ao processo de transição. Nas Eleições Gerais de 2017, é indicado como cabeça de lista do MPLA o então ministro da Defesa, João Lourenço, que assume a chefia do Estado, depois da vitória do partido. José Eduardo dos Santos viria a deixar a liderança do partido em Setembro de 2018, depois de 39 anos, num congresso extraordinário que elege João Lourenço. José Eduardo dos Santos fica então como presidente emérito do partido, até à sua morte.
No seu último discurso, como presidente do MPLA, José Eduardo dos Santos defendeu-se das críticas contra a longevidade do seu consulado. Lembrou que muitos dos seus camaradas sabiam que ele nunca ambicionou o cargo e tão pouco pensou que pudesse permanecer tantos anos no mesmo. "Mas as circunstâncias históricas e políticas assim o determinaram. Procurei, ao longo desses anos, dar o melhor de mim, àquilo que estava ao alcance das minhas forças, das minhas capacidades intelectuais, alicerçadas nas profundas convicções políticas e ideológicas que, desde a juventude, nortearam a minha vida”. Na mesma ocasião, reconheceu ter cometido alguns erros, considerando que não existia qualquer actividade humana "isenta de erros”.
Programa das Comemorações do 28 de Agosto
Dia 28 de Agosto 9h30 - Cerimónia de Deposição de Coroa de Flores no Sarcófago junto ao Memorial Dr. António Agostinho Neto (FESA e Amigos) 18h00 - Missa na Igreja de Jesus, Cidade Alta, em Memória à sua Alma (Organização da Associação Axiluanda).