O novo Hospital Geral do Cuanza-Norte, a ser inaugurado nesta terça-feira pelo Presidente da República, João Lourenço, vai atender mais de mil pacientes por dia, cifra três vezes maior que a da antiga unidade sanitária, que oscilava entre 250 e 300.
A unidade sanitária, baptizada com o nome do nacionalista Mário Coelho Pinto de Andrade, erguida na localidade de Quirima, a 13 quilómetros da cidade de Ndalatando, vai dispor de 200 camas, superando as actuais 120 do antigo Hospital Geral, que só depois das obras de reabilitação e ampliação em curso passará para 150 camas.
O novo Hospital Geral do Cuanza-Norte dispõe de várias especialidades médicas, nomeadamente de Medicina Interna, Intensiva, Pediatria, Ginecologia e Obstetrícia, Cirurgia Geral,Neonatologia, Neurocirurgia, Ortotraumatologia, Psiquiatria, Hemodiálise, Oftalmologia, Otorrinolaringologia, Anestesiologia e Reanimação. Constam, igualmente, dos serviços do hospital a área de Medicina Geral, Familiar e internatos diversos.
A componente formação também está acautelada na unidade hospitalar, estando virada para os técnicos de enfermagem e biomédicos nas especialidades de Radiologia, Farmacologia, Fisioterapia, Estomatologia e Diagnóstico Laboratorial.
O novo Hospital Geral da província conta, ainda, com serviços gerais, Imagiologia, bloco operatório, unidade de cuidados intensivos, laboratórios, área logística, ambulatório, pequenas cirurgias, colheitas, reabilitação física, urgências, maternidade, queimaduras, oftalmologia, medicina dentária, gastroenterologia e morgue.
Orçado em 63 milhões de dólares, o novo hospital, cujas obras iniciaram em Agosto de 2021, foi erguido numa área total de 45.500 metros quadrados, 15.600 dos quais de área coberta. O sector é assegurado por 1.789 trabalhadores, entre médicos, enfermeiros e técnicos. A província conta, actualmente, com 136 unidades sanitárias, sendo quatro hospitais, 20 centros de saúde, 106 postos médicos e um total de 1.202 camas para internamento.
O Presidente da República chegou a Ndalatando na tarde de ontem, tendo aterrado no Aeroporto Comandante Ngueto, onde foi recebido em apoteose por centenas de cidadãos da província.Além da inauguração do Hospital Geral do Cuanza-Norte, a agenda do Chefe de Estado, divulgada domingo pela Presidência da República, reserva uma visita ao Centro de Captação de Água, localizada em Lucala, a uma feira de produção nacional, assim como a orientação da habitual reunião do governo da província.
Centro de Captação de Água
O Centro de Captação de Água foi projectado para beneficiar cerca de 214 mil habitantes de Ndalatando, Lucala e aldeias circunvizinhas. Os testes do sistema de captação, tratamento e distribuição de água do rio Lucala, no município com o mesmo nome, foram já realizados com sucesso. Os ensaios permitiram elevar de quatro para 12 horas de abastecimento diário de água da infra-estrutura, podendo atingir 24 horas de abastecimento pleno às populações de maneira faseada.
Com a entrada em funcionamento do novo sistema será possível distribuir água, pela primeira vez, em localidades onde até então não era possível.
O governador da província, João Diogo Gaspar, assegurou que o projecto vai diminuir, de forma significativa, a necessidade de água em Ndalatando e em localidades vizinhas, tendo recomendado, por isso, a preservação de todo o sistema, com o envolvimento da comunidade, que tem agora mais água disponível, indispensável para a prevenção contra muitas doenças de origem hídrica.
Com a previsão de serem inauguradas antes do final deste ano, as obras de construção do novo sistema de fornecimento de água à cidade de Ndalatando iniciaram em Setembro de 2021 e vão contemplar 15 mil ligações domiciliares na primeira fase.
Avaliado em 22 milhões, 656 mil e 856 dólares, num financiamento do Banco Mundial, o projecto vai fornecer água a 182 mil consumidores em Ndalatando, 21 mil no município de Lucala e mais de 10 mil em aldeias circunvizinhas.
Quando atingir o pico, o projecto contará com uma capacidade de captação de 660 metros cúbicos por hora, uma conduta elevatória de água bruta em ferro fundido com uma extensão de 1.516 metros, desde a captação até à Estação de Tratamento de Água (ETA).
Conta, igualmente, com uma ETA dimensionada para 625 metros cúbicos/hora e um reservatório de água tratada com 3.500 metros cúbicos de capacidade e estação elevatória com capacidade de 594 metros cúbicos por hora.
O sistema vai dispor, ainda, de uma conduta adutora gravítica de água tratada com uma extensão de 6.075 metros e de um reservatório apoiado com capacidade para 700 metros cúbicos.
Homenagem a Mário Pinto de Andrade
Filho de José Cristino Pinto de Andrade e de Ana Rodrigues Coelho, o pai foi funcionário público e um dos fundadores da Liga Nacional Africana. Fez os estudos primários no Seminário de Luanda e concluiu, em 1948, os estudos secundários no Colégio das Beiras.
Durante o período de estudos, em Luanda, inseriu-se, rapidamente, nos grupos nacionalistas da Liga Nacional Africana, tendo, nessas lides, conhecido Gervásio Viana, Manuel Bento Ribeiro, André "Mongone" Mingas, Ilídio Machado e Viriato da Cruz, de quem se tornaria um grande amigo. Mário Pinto de Andrade interessou-se, desde cedo, por questões ligadas à cultura do continente africano e à dignificação do homem africano.
Em 1948, embarcou para Lisboa, matriculando-se em Filologia Clássica na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
Na sua estadia em Lisboa, estabeleceu contactos com os círculos da oposição portuguesa e, sobretudo, com o grupo de estudantes da Casa dos Estudantes do Império.
Mário Pinto de Andrade é considerado um ensaísta, com contribuições à sociologia e história, mas foi, também, o organizador de sucessivas antologias de poesia, de curiosos exercícios de composição em kimbundu e tradutor e divulgador de autores perseguidos, como Costa Andrade e Luandino Vieira. Publicou a Antologia da Poesia Negra de expressão portuguesa (1958), A Guerra em Angola (1961), A Poesia Africana de expressão portuguesa (1969), Amílcar Cabral: Ensaio de Biografia Política (1980), As Origens do Nacionalismo Africano (1997), entre muitos outros.
Um dos escritores mais destacados da sua geração, marcada pela associação da actividade literária à luta pela independência das colónias portuguesas, Mário Pinto de Andrade mantinha o pseudónimo literário de BuangaFelé, e é considerado o patrono da sociologia angolana.
Entre 1959 e 1960 assumiu a presidência do MPLA. Entre 1965 e 1969, coordenou a Conferência das Organizações Nacionalistas das Colónias Portuguesas (CONCP), tendo papel preponderante na denúncia do colonialismo e nas tentativas de definição de estratégias concertadas por parte da FRELIMO, MPLA e PAIGC. De 1971 a 1972, integrou o Comité de Coordenação Político-Militar do MPLA na Frente Leste.