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PAÍS REGISTA MAIS DE 98 MIL NOVOS  CASOS DE PROBLEMAS MENTAIS

  10 Oct 2022

PAÍS REGISTA MAIS DE 98 MIL NOVOS CASOS DE PROBLEMAS MENTAIS

A questão da saúde mental tem sido um problema crescente nas sociedades modernas. No país, um total de 98.084 pacientes, com diferentes perturbações mentais, foi atendido no primeiro semestre do ano em curso, nas várias unidades de saúde espalhadas pelo país, informou, este domingo, em Luanda, a coordenadora do Programa Nacional de Saúde Mental e Abusos de Substâncias.

Massoxi Vigário disse, por ocasião do Dia Mundial da Saúde Mental, celebrado esta segunda-feira,que nos últimos dois anos o número de pessoas com perturbações mentais tende a crescer muito no país. "Em 2020, foram diagnosticados 83.485 novos pacientes, já em 2021 o número aumentou para 88.280”, revelou.

Muitos destes problemas mentais, frisou, são a principal causa do crescente au-mento de casos de suicídio no país. "Este fenómeno tem crescido bastante. Nos últimos três anos 2.015 pessoas se suicidaram”, disse.

A literatura moderna de Psicologia, defendeu, afirma que, por cada morte consumada, por suicídio, existem 20 tentativas. "Quer dizer que existem 20 pessoas, em diferentes lugares, a tentarem se matar todos os dias”, contou, além de acrescentar que com base nos dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), a cada 40 segundos, uma pessoa morre por suicídio em todo o mundo.

A psicóloga clínica sublinhou que tanto os casos de suicídio como os de problemas mentais, propriamente dito, tendem a ser bem maiores aos apresentados, "porque no país ainda há um défice quanto à colecta de informações actualizadas”. "Desta forma, os dados expostos podem estar um pouco abaixo dos reais”.

Entre os vários casos de doenças mentais registadas, revelou, as que mais lideram as listas são os transtornos por consumo de bebidas alcoólicas e drogas, a esquizofrenia, as ideias delirantes, as alterações de humor, as neuroses e o stress somático.

"Os mais preocupantes são os transtornos por consumo de álcool, que estão a aumentar bastante todos os dias, assim como a criar muitos dependentes químicos. Estes números, quando acrescidos aos de usuários de liamba, cocaína e o craque, uma droga que circula muito no meio da sociedade angolana, é motivo de maior alerta, em especial com os jovens”, aconselhou.

Outro transtorno preocupante é a esquizofrenia, muitas delas provocadas pelo consumo de substâncias psico-activas. "Outros transtornos de humor, como as depressões e ansiedades, também têm prejudicado muito os jovens, fundamentalmente as pessoas da faixa etária dos 15 aos 50 anos, idades bastante produtivas”, frisou.

A saúde mental, disse, depende muito de alguns factores, um dos quais o social, cuja influência é muito activa. "O desemprego, pobreza, educação, condições de habitabilidade, nível de urbanização, discriminação sexual, violência de género e doméstica, experiências precoces negativas, exclusão social, estigmas e os acontecimentos do quotidiano, podem ser muito estressantes para a estabilidade psicológica necessária para ter uma boa saúde mental”, destacou.

Preocupação com as crianças

A psicóloga explicou que, actualmente, as crianças já começam a ser uma preocupação, em relação à saúde mental. "A população activa, dos 15 aos 50 anos, que sofre de problemas mentais, são pais e educadores em casa e, geralmente, levam toda a carga negativa e frustrações, para as crianças”, criticou.

Devido a esta tendência, informou, os psicólogos têm atendido muitas crianças em consultas de psiquiatria e psicologia, causados por problemas como défice de aprendizagem, ou atenção, que não são do fórum mental, mas causam uma vulnerabilidade nelas, expondo-as à situações mais complicadas.

A coordenadora do Programa Nacional de Saúde Mental e Abusos de Substâncias defende, por isso, a criação urgente de gabinetes de apoio psico-pedagógicos em todas as escolas, públicas e privadas. "É preciso que os professores saibam ajudar a identificar as necessidades que as crianças têm, de forma a garantir um acompanhamento mais diferenciado e digno”.

Massoxi Vigário acredita que caso seja possível descobrir problemas como depressão, ansiedade, ou abuso sexual familiar numa criança, muitos problemas poderiam ser evitados. "É importante a presença destes profissionais, quer seja na vertente clínica, de trabalho ou educacional, nas instituições de ensino”, disse, além de lamentar o facto de que, apesar do aumento exponencial das escolas privadas, muitas delas não possuem um gabinete de apoio psico-pedagógico, ou um psicólogo.

"Há escolas com possibilidade financeira para terem psicólogos, assim como encarregados de educação que não consideram importante os filhos serem educados num ambiente escolar seguro e integrado. Porém, é o pensamento errado, pois é preciso salvaguardar sempre o interesse da criança, do ponto de vista educacional e mental”, defendeu.

A data

O Dia Mundial da Saúde Mental foi celebrado pela primeira vez, a 10 de Outubro de 1992, por iniciativa do Secretário-Geral Adjunto da Federação Mundial para Saúde Mental, Richard Hunter. Esta organização mundial tem contactos em mais de 150 países e todos os anos milhares de apoiantes celebram a data, como forma de chamar a atenção da sociedade para o perigo das doenças mentais e os principais efeitos desta na vida das pessoas.

Cuando Cubango carece de especialistas em saúde mental

A província do Cuando Cubango tem défice para atender os pa-cientes com transtornos mentais, por falta de médicos especializados, situação que o supervisor do Programa de Saúde Mental da região, Faustudo Martins Augusto, considera bastante preocupante, tendo em conta o número de dementes a circularem por algumas ruas de Menongue.

Faustudo Martins Augusto disse que o aumento de dementes na cidade de Menongue é um problema que necessita de intervenção imediata, como forma de evitar a criação de estereótipos, preconceitos e outras atitudes, capazes de dificultar a recuperação do doente.

Os transtornos mentais, disse, são doenças que afectam a personalidade do indivíduo e susceptíveis de afectar qualquer um.

O psicólogo revelou que, de Janeiro a Outubro deste ano, o Cuando Cubango registou 36 casos de indivíduos com perturbações mentais do foro psiquiátrico, dos quais 15 mulheres e 21 homens, com idades entre os 18 e 75 anos.

Durante este período, explicou, foram diagnosticados 41 casos de doenças do foro psicológico, em todos os municípios do Cuando Cubango, com maior incidência na cidade de Menongue.

As doenças do foro psíquico, defendeu, são um problema de saúde pública, tendo em conta o número de pacientes com estas patologias, que afluem às distintas unidades sanitárias da província à procura de tratamento médico. "Há casos que o paciente apenas necessita de uma orientação de psicoterapia para voltar ao normal”, disse.

Tratamento

Faustudo Martins Augusto disse que os pacientes com doenças mentais, tanto do foro psiquiátrico como psicológico, considerados leves, são atendidos em algumas unidades sanitárias do Cuando Cubango, onde recebem uma assistência primária e medicamentos como calmantes.

Um dos maiores problemas, revelou, tem sido o acompanhamento do tratamento destes pacientes, por falta de infra-estruturas específicas e técnicos especializados, em especial nas matérias do foro psiquiátrico.

Apesar da falta de infra-estruturas para tratamento das patologias, disse, 41 pacientes com transtornos mentais, de origem psicológica, estão a ser acompanhados pelos psicólogos clínicos da província.

Os pacientes com sinais graves de perturbações mentais, contou, são encaminhados para os bancos de urgência do Hospital Geral do Cuando Cubango, onde lhes são administradas substâncias psicotrópicas. "Mas os que requerem cuidados diferenciados são transferidos para as províncias do Huambo, Benguela e Luanda”.

A situação, lembrou, é preocupante, tendo em conta que a nível do Cuando Cubango não existe uma unidade hospitalar especializada para os doentes com perturbações mentais, com realce para os do foro psiquiátrico.

"Na ausência de psiquiatras, os cinco psicólogos clínicos existentes na província e os médicos de medicina geral são cada vez mais solicitados para atender estes casos”, disse, acrescentando que apenas atendem, em Menongue, no Hospital Geral do Cuando Cu-bango, no Municipal e na Maternidade Provincial.

A depressão, reconheceu, seguida de stress somático, ansiedade, esquizofrenia, alterações psicotrópicas e neuróticas, motivados por diversas razões, como conflitos militares, pobreza, doenças, deficiências nutricionais, uso de bebidas alcoólicas, drogas e doenças cerebrais como a epilepsia.

Até ao momento, acrescentou, no Cuando Cubango não há casos de transtornos mentais desencadeados pelo uso abusivo da internet ou redes sociais, embora muitos doentes ou pacientes não falem sobre a verdadeira causa dos sintomas.

Casos de suicídio

As autoridades sanitárias da província, disse Faustudo Martins Augusto, estão preocupadas com o número de suicídios no Cuando Cubango, em especial quando nos últimos dois anos tiveram o registo de mais de 40 tentativas, das quais 26 terminaram em morte.

Do número de suicídios registados, explicou, 24 ocorreram na cidade de Menongue, enquanto Cuangar e Calai tiveram um caso cada. Para o psicólogo, o suicídio, por si, deve ser visto como um problema de saúde pública, tendo em conta que muitos dos casos estão relacionados a questões sociais, como a perda de emprego, discriminação, agressões psicológicas e físicas.

"Às vezes, o suicídio pode ocorrer por problemas conjugais e familiares, ou o uso abusivo de substâncias psico-activas (álcool e drogas), assim como o abuso sexual, ou mesmo o medo do futuro e alguns factores socioculturais”, lamentou, acrescentando que na província a maioria das pessoas com este tipo de comportamento está com idade entre os 14 e os 77 anos.

"Muitos suicídios são precedidos de sinais de alerta, seja verbal ou comportamental, tais como ansiedade, alcoolismo, irritabilidade, agressividade e impulsividade, comportamento anti-social, pouca capacidade para a resolução de problemas, incerteza quanto à identidade de género ou orientação sexual, assim como a instabilidade familiar, ou eventos negativos e traumáticos da infância”, concluiu.

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