O Chefe de Estado apresentou, nesta segunda-feira, em Luanda, condolências à Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST) pelo passamento fisico do Cardeal Dom Alexandre do Nascimento, falecido no passado dia 28 de Setembro, em Luanda, aos 99 anos, por doença.
João Lourenço, acompanhado da Primeira-Dama da República, Ana Dias Lourenço, deslocou-se ao Paço Episcopal, localizado na Cidade Alta, para apresentar os sentimentos de pesar aos membros da mais alta hierarquia da Igreja Católica em Angola.
Antes de deixar o recinto, o Presidente da República assinou o livro de condolências aberto no local, onde voltou a enaltecer as virtudes de Dom Alexandre Cardeal do Nascimento, à semelhança do que fizera na mensagem endereçada à família, por altura do anúncio da morte do primeiro Cardeal angolano.
Na mensagem, João Lourenço destacou que o país perdeu um dos seus filhos mais insignes e um homem bom, que consagrou grande parte da sua vida a transmitir os seus valores e princípios para uma vida em dignidade, de perdão e de respeito ao próximo.
“Comungo da certeza de que os feitos do servo da Igreja e da Nação, que agora nos deixa, serão perpetuados ao longo de gerações, como confirmação da grandeza do seu percurso e da nobreza da causa geral que defendeu ao longo da vida, a de disseminar o bem”, escreveu o Chefe de Estado na mensagem.
“Em meu nome, no da minha família e do Executivo angolano, transmito os mais profundos sentimentos de pesar à Igreja Católica, à Igreja angolana e à família enlutada”, reforçou.
Além do Chefe de Estado, assinaram o livro de condolências, na mesma ocasião, a Vice-Presidente da República, Esperança da Costa, os presidentes dos tribunais Supremo, Joel Leonardo, Constitucional, Laurinda Cardoso, o procurador-geral da República, Hélder Pitta Gróz, membros do Executivo, responsáveis dos órgãos de Defesa e Segurança, provedora de Justiça, Florbela Araújo, vice-presidente do MPLA, Luísa Damião, e o embaixador de Portugal em Angola, Francisco Alegre Duarte. Assinaram, igualmente, o livro de condolências os membros do Secretariado do Bureau Político do Comité Central do MPLA, os membros do Conselho Angolano de Igrejas Cristãs (CICA), da Aliança Evangélica de Angola e os do Fórum Cristão de Angola.
País lamenta a morte
Várias sensibilidades do xadrez político e da sociedade civil angolana lamentaram, no momento, o falecimento do primeiro Cardeal angolano. Foi o caso da secretária de Estado para a Cultura, Maria da Piedade de Jesus, que considerou a partida de Dom Alexandre do Nascimento uma grande perda para o povo angolano. “É um momento muito triste”, referiu. Para o ministro das Relações Exteriores, pela missão cumprida, Dom Alexandre do Nascimento foi uma figura de dimensão mundial.
Téte António disse que Dom Alexandre Cardeal do Nascimento foi, igualmente, um “grande” diplomata, revelando que contribuiu, com o seu próprio empenho, no processo de fortalecimento do nome de Angola na arena internacional. “Defendendo, sobretudo, causas justas, dos humildes, de liberdade, de desenvolvimento e causas de paz”, lembrou o chefe da diplomacia angolana.
No mesmo diapasão alinhou o governador da província de Luanda, para quem Angola perde uma referência da sua história. Manuel Homem recordou que Luanda foi o local onde o Cardeal Dom Alexandre do Nascimento passou a maior parte da sua vida e do seu sacerdócio. "Deixa-nos, naturalmente, com um pesar enorme, mas também lições de resiliência, de ensinamento", ressaltou Manuel Homem.
A vice-presidente do MPLA, Luísa Damião, recordou Dom Alexandre do Nascimento como um líder espiritual de grande dimensão, um insigne patriota, um construtor de pontes, um promotor da paz, do perdão e da reconciliação nacional, que deixa um valioso legado, que constitui um tesouro para as novas gerações.
“Será recordado, também, como um académico de excelência, que esteve na génese da criação da Universidade Católica de Angola, que formou muitos quadros que têm estado a dar o seu contributo no desenvolvimento de Angola”, frisou Luísa Damião.
A presidente da Assembleia Nacional, Carolina Cerqueira, também esteve na cerimónia, enquanto sobrinha do Cardeal, mas não assinou o livro de condolências.
José Cerqueira, sobrinho do Cardeal Dom Alexandre do Nascimento, recordou o tio como um homem muito alegre e bem disposto, sublinhando ser esta a imagem que as pessoas que o conheceram pessoalmente vão guardar.
O reverendo Alberto Daniel, que falou em nome do CICA, da Aliança Evangélica de Angola e do Fórum Cristão de Angola, disse que o Cardeal Dom Alexandre do Nascimento deixa um legado que vai marcar a vida de várias gerações religiosas em Angola. “É uma perda tão grande para todos nós”, indicou.
Cardeal do Nascimento é sepultado hoje
Dom Alexandre Cardeal do Nascimento vai ser sepultado, hoje, na Sé Catedral da Arquidiocese de Luanda. Será a primeira entidade da Igreja Católica em Angola a ser sepultada naquele lugar sagrado.
Dom Alexandre do Nascimento nasceu na província de Malanje, a 1 de Março de 1925, e estudou nos seminários dos Bângalas, em Malanje, e de Luanda.
Em 1948, foi enviado para a Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma, onde obteve o bacharelado em Filosofia e a licenciatura em Teologia, sendo ordenado padre a 20 de Dezembro de 1952.
Enquanto padre, tornou-se professor de Teologia Dogmática do Seminário Maior Arquidiocesano do Sagrado Coração de Jesus, em Luanda, e redactor-chefe do Jornal Católico “O Apostolado”, entre 1953 e 1956, e exerceu a função de Pregador da Sé Catedral de 1956 a 1961. A 10 de Agosto de 1975, Dom Alexandre foi nomeado bispo da Diocese de Malanje, sendo ordenado a 31 de Agosto de 1975, na Sé Catedral de Luanda.
A 3 de Fevereiro de 1977, Dom Alexandre foi nomeado Arcebispo Metropolitano do Lubango e administrador apostólico “ad nutum Sanctæ Sedis” da Diocese de Ondjiva.
A 5 de Janeiro de 1983, foi anunciada a sua criação como Cardeal, pelo Papa João Paulo II, no Consistório de 2 de Fevereiro, em que recebeu o barrete vermelho e o título de Cardeal-presbítero de São Marcos em Agro Laurentino.
Na sequência, Dom Alexandre do Nascimento foi transferido para a Arquidiocese de Luanda, a 16 de Fevereiro de 1986, tendo dirigido esta região até 23 de Janeiro de 2001.
Foi, igualmente, presidente da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST), entre 1990 e 1997, e a 5 de Junho de 2015 ingressou na Ordem dos Pregadores.
Ao longo da sua carreira, foi reconhecido com a Grã-Cruz da Ordem de Cristo, entregue na Embaixada Portuguesa, em Luanda, a 19 de Julho de 2010. Tem um doutoramento Honoris Causa pela Universidade Católica de Angola (2019). Em termos de obras publicadas, Dom Alexandre Cardeal do Nascimento possui “Após 15 anos, uma hora verdadeiramente eucarística nas ruas de Luanda: alocução feita no termo da procissão do corpo de Deus”, “Caminhos da Esperança”, “Como eu li o Livro de Rute”, “Diário íntimo e outros escritos de piedade”, “Do Conceito da Civilização e suas Incidências”, “Do homem sem fé – suas possibilidades e Limites – Segundo Francisco Suarez”.
Quanto aos escritos pastorais, destaca-se a “Experiência constitucional angolana e a justificação dos direitos fundamentais”, “Livro de ritmos”, “Meditações para o Ano Santo”, “Pequeno livro de Nossa Senhora” e “Sobre o Belo e a Moral”.