O ministro do Planeamento e governador de Angola junto do Banco Mundial destacou o acesso à energia e à conectividade como um dos principais desafios do continente africano.
Victor Hugo Guilherme foi um dos oradores da reunião entre o Caucus Africano e o presidente do Banco Mundial, Ajay Banga.
O grupo de governadores africanos levou para o encontro um memorando que espelha os principais desafios do continente que devem merecer uma atenção especial das instituições de Bretton woods.
Estes apoios, segundo o governador angolano,vão servir para fortalecer o ecossistema africano de pagamentos, melhorar o acesso à energia e a conectividade, aproveitar as associações com os bancos multinacionais de desenvolvimento e reformar a arquitectura financeira.
A apresentação do primeiro tópico esteve a cargo do Gana, o segundo de Angola, o terceiro do Egipto, o quarto de Cabo-Verde e o último esteve a cargo da Serra Leoa.
Na sua intervenção sobre a energia e a conectividade, o ministro angolano destacou o empenho do Banco Mundial em promover o acesso a estes bens em toda a África.
Victor Guilherme referiu que na África subsaariana mais de 500 milhões de pessoas correm o risco de ficar sem acesso à electricidade até 2030 e quase 400 milhões delas vivem em países frágeis e afectados por conflitos.
O ministro lembrou que na Cop 28, o Banco Mundial lançou um novo programa de energia transformador com o objectivo de chegar a 200 milhões de africanos.
Mais desenvolvimento
No contexto da nova parceria entre o Banco Mundial e o Africano de Desenvolvimento, foi ampliada a meta no respeito aos beneficiários.
Segundo o responsável, aquela instituição internacional pretende agora ligar 250 milhões de pessoas, enquanto o Banco Africano de Desenvolvimento apoiará mais 50 milhões.
Para o titular da pasta do Planeamento, a iniciativa é é de louvar e urgente, dado que mais de 600 milhões de africanos não têm actualmente acesso à electricidade e 900 milhões vivem sem energia limpa.
Victor Hugo Guilherme reiterou o pedido para que o Banco Mundial desenvolva um plano de acção integrado de energia de 5 anos, 2025-2029, para África.
Segundo referiu, este plano deve ser paralelo ao de acção para as alterações climáticas do Banco Mundial e ser concebido à escala e qualidade necessárias para apoiar as componentes equitativas e justas da transição energética.
Tendo em conta estes objectivos ambiciosos, o delegado destacou várias áreas críticas em que precisam de colaboração adicional.
A primeira, um cabaz energético equilibrado que inclua energias renováveis, como a solar, a eólica e a hidroeléctrica, bem como o gás natural e nuclear, incluindo o estabelecimento de quadros políticos sólidos que promovam o investimento. Esta abordagem é essencial, para garantir a segurança energética e reduzir a dependência dos combustíveis fósseis, a fim de alcançar os objectivos de energia acessível limpa até 2030.
Segundo, reconhecendo que o gás natural é um combustível de transição mais limpo, com um potencial significativo de redução das emissões de carbono, face ao carvão e ao petróleo, considerou crucial integrar o gás natural nas estratégias energéticas.
À medida que a energia nuclear ganha atenção como uma opção viável para diversificar as fontes de energia e reduzir as emissões de gases com efeito estufa, as discussões em torno da sua segurança, investimento e processão pública devem continuar a ser prioritárias, bem como a estreita colaboração com a Agência Internacional de Energia Atómica e outras partes interessadas internacionais.
O ministro angolano considerou ser vital explorar soluções que permitam a produção do petróleo, minimizando as emissões do carbono.
Victor Guilherme defendeu uma abordagem multifacetada que inclua tecnologias de extracção mais limpas, incluindo soluções como o reinvestimento de uma parte das receitas do petróleo em projectos de energias renováveis.
Segundo disse, o apoio a uma maior eficiência energética e a promoção de parcerias para a pesquisa de soluções inovadoras serão fundamentais para reduzir as emissões.
Além disso, o alinhamento das práticas de exploração petróleo com os ODS será essencial para o desenvolvimento sustentável.
E, porque existe o compromisso de implementar iniciativas como a Missão 300 e os pactos energéticos a nível nacional, solicitou ao Banco Mundial que desenvolva e partilhe, de preferência até as reuniões de Primavera de 2025, quadros ou métricas de resultados adaptados, incluindo indicadores com dados de base e objectivos para medir resultados, o progresso, os efeitos e o impacto destas iniciativas.
O presidente do Banco Mundial, Ajay Banga, considerou pertinente as preocupações apresentadas pelos governadores africanos e apresentou algumas propostas de soluções, sublinhando a necessidade de os países africanos estarem mais unidos e fazerem ouvir mais alto a sua voz. “É uma forma, também, de ajudarem o Banco Mundial”.
Compromisso
O Caucus africano também reuniu com a directora do Fundo Monetário Internacional, Kristalina Georgieva, e ambos reafirmaram o compromisso de fortalecer a resiliência económica de África.
O compromisso consta numa declaração produzida no fim da reunião do Caucus Africano realizada ontem. Segundo o documento, tratou-se de uma discussão construtiva focada em progredir em direcção à meta compartilhada de elevar os padrões de vida em toda a África que tem estado a navegar um cenário económico complexo.
O Caucus é uma reunião dos Governadores Africanos junto do Grupo Banco Mundial e Fundo Monetário Internacional. São, geralmente, ministros das Finanças, da Economia e governadores dos Bancos Centrais Africanos em representação dos respectivos países.
Consenso de Abuja
A posição africana de consenso para as reuniões do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional foram definidas no fórum do Caucus Africano, realizado em Abuja, Nigéria, no princípio do mês de Agosto deste ano sob o lema "Facilitando o Comércio Intra-Africano: Catalisador para o Desenvolvimento Sustentável em África".
Os governadores africanos centraram as discussões na digitalização do continente e seu impacto na transformação do desenvolvimento, bem como no fortalecimento dos ecossistemas de pagamentos pan-africanos para o desenvolvimento integrado, na facilitação do comércio e a integração regional em África e na melhoria do acesso à energia, acessibilidade e conectividade em conformidade com a Agenda 2063 da União Africana.
As reuniões anuais do grupo Banco Mundial reúnem líderes influentes de governos, empresas e organizações internacionais, sociedade civil e academia, em busca de soluções para desafios de desenvolvimento económico e sustentabilidade que o mundo enfrenta.
O ministro do Planeamento, Victor Hugo Guilherme, é o chefe da delegação angolana nos encontros anual do Banco Mundial e Fundo Monetário Internacional, em Washington, Estados Unidos da América.
A comitiva angolana integra a ministra das Finanças, Vera Daves de Sousa, o Governador do Banco Nacional de Angola, Tiago Dias, e o Presidente do Fundo Soberano de Angola, Armando Manuel.
As reuniões anuais do grupo Banco Mundial reúnem líderes influentes de governos, empresas e organizações internacionais, sociedade civil e academia, em busca de soluções para desafios de desenvolvimento económico e sustentabilidade que o mundo enfrenta.